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Desembargador Pedro Ranzi fala sobre os 20 anos do Programa de Gaúcho

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Se você já sintonizou o rádio na Gazeta FM domingo pela manhã, então ouviu aquele sotaque carregado, da Região Sul do país, com poesias e canções que acabam prendendo a nossa atenção. O gauchesco acaba encantando o ouvinte que se sente transportado pela emoção, ouvindo cantores e músicas que, hoje, raramente são tocadas pelas outras rádios.

O Programa de Gaúcho, segundo o próprio autor, desembargador Pedro Ranzi, não busca impor a cultura, mas fazer a divulgação daquilo que o Brasil tem de melhor, uma cultura variada.

No final de 2021, o magistrado recebeu a moção de aplauso da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) pelos 20 anos de atuação nas ondas do rádio, um feito que poucos conseguem comemorar, uma resistência cultural, em uma época de domínio predominante de novos ritmos.

De personalidade marcante, empreendedor e defensor da cultura gaúcha, Pedro Ranzi, natural de Espumoso (RS), veio para o Acre em 1969. Foi prefeito de Cruzeiro do Sul, estudou Direito na Universidade Federal do Acre (Ufac) e entrou para a magistratura em 1988, como juiz substituto.

Em 2005, ele assumiu o cargo de desembargador, chegando a ser presidente do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Atuante, ele, também, fundou o Centro de Tradições Gaúchas (CTG), contando com o apoio de conterrâneos para manter a chama viva do programa e das atividades sociais desenvolvidas.

Acreano por escolha, Ranzi, assim como José Plácido de Castro, líder e patrono da Revolução Acreana, desempenha seu papel para a história do estado, o que lhe rendeu ainda a medalha da Ordem do Mérito Bombeiro Militar do Corpo de Bombeiros.

O desembargador aproveitou para falar sobre a experiência vivida ao trabalhar a defesa da cultura gaúcha.

Repórter – O senhor pode contar um pouco sobre o trabalho de divulgação da cultura gaúcha?

Ranzi – Quando cheguei no Acre, fui morar em Cruzeiro do Sul, onde comecei fazer um programa de rádio na Semana Farroupilha, que, tradicionalmente, começa uma semana antes de 20 de setembro. Em Rio Branco, em 1974, com amigos, a ideia não foi minha, mas sou o fundador, criamos o Centro de Tradições Gaúchas que batizamos com o nome de Plácido de Castro. Quando assumi o cargo de magistrado, voltei para Cruzeiro do Sul, não podendo mais cuidar do CTG, um trabalho que pude retomar apenas em 1990, quando retornei para a capital, realizando o resgate dos documentos de criação da entidade e, com isso, conseguimos um terreno para a construção da sede.

Repórter –  Como surgiu a ideia do Programa de Gaúcho?

Ranzi – Em férias, para visitar meu pai, na cidade de Passo Fundo [Rio Grande do Sul], minha irmã, Íris, que me criou, me chamou para ouvir a rádio Planalto, 105.9, que ainda toca músicas gaúchas 24 horas por dia. Ela havia telefonado e pedido uma música e me homenageou, o que me inspirou. Disse para ela que colocaria um programa desse no Acre. Devido a alguns trabalhos, o projeto foi sendo adiado. Em outra visita ao meu pai, minha irmã pediu outra música, então tive a iniciativa, comprei alguns CDs e, no dia 1° de abril de 2001, o programa foi ao ar na rádio Gazeta, onde estamos até hoje, contando com a ajuda do cantor, compositor e meu amigo, Jorge Cardoso. Começamos com uma duração de 30 minutos, depois passamos para uma hora de duração e chegamos, hoje, a três horas de duração.

Repórter – O que representou para o Programa de Gaúcho?

Ranzi – O poder da rádio é muito grande, uniu a gauchada, o que colaborou para a construção da sede social do CTG, criamos a diretoria, organizamos toda a papelada, começamos a realizar eventos culturais. Toquei o programa praticamente sozinho, no início, mas depois tive o apoio de Hugo, Juarez, Thalles e tantos outros que colaboraram. Fiquei sozinho por 8 anos. Hoje, quem toca o programa é Mário Gaúcho, que recebeu comigo a moção de aplausos.

Repórter – Como é tocar um programa em uma rádio comercial e que é preciso pagar pelo horário?

Ranzi – Houve muita união e temos patrocinadores fiéis que estão no programa desde o início. Acredito que conseguimos mostrar credibilidade, porque o objetivo é mostrar cultura. Não falamos de política, não falamos de cores partidárias. Dentro do próprio CTG não se permite tendência política e a rádio só toca a música gauchesca.

Repórter – Como é resistir ao tempo mesmo com o avanço da tecnologia?

Ranzi – Naquela época, não havia tanta influência da internet, mas, hoje, é possível ligar o celular e acessar qualquer rádio. Acredito que a nossa união local conta muito. É muito bom reunir todos para comer um churrasco, comer outros tipos de pratos típicos, mantendo a tradição no estado.

Repórter – Quando o senhor pensa em todos esses anos de atuação em um meio de comunicação, qual o sentimento que vem à tona?

Ranzi – Há uma história e o viés do programa não é impor cultura, mas mostrar a cultura, então temos músicas nordestinas, forró, sertanejo, e essa parte da cultura do Rio Grande do Sul, que é muito rica, possui uma ligação local, com Plácido de Castro, que é marcante na conquista do Acre, então o programa busca a união cultural. Um cantor que marcou muito e que até hoje as pessoas pedem muito é Teixeirinha, muito tocado aqui, que canta as paixões do povo.